domingo, 6 de setembro de 2009

A mediunidade de padre Cícero Romão Batista




Muito se tem escrito a respeito do padre Cícero Romão Batista, o sacerdote-político que se
constituiu num ídolo carismático das multidões humildes do Ceará e mesmo de outros Estados. Não faltaram os biógrafos do “Taumaturgo de Juazeiro” a realçar-lhe os feitos e os defeitos, os méritos e os deméritos. Todos esmerilhando detalhes para o registro histórico, procurando achegas para interpretação do fenômeno sociológico, tentando retratar a vivência e a convivência do biografado no seu habitat inculto – terreno a ser desbravado a duras penas pelas levas de obreiros submissos incondicionalmente ao poder magnético do “homem providencial”. Lamentável é que há muito exagero e deturpação dos fatos relacionados com o padre Cícero, como ele próprio chegou a deplorar: - “Quanta gente mente em meu nome!...” Confirma-se, assim o conceito de Carlyle, segundo o qual a história é uma destilação de intrigas. De há muito se tornava imperioso, para restabelecimento da verdade histórica, o surgimento de um livro sem parti pris, convenientemente documentado e isento de qualquer sectarismo. Eis que esse livro, finalmente, veio a lume. Intitula-se Padre Cícero e Juazeiro e é de autoria do cearense Aldenor Benevides, abalizado folclorista que fala de ciência própria das coisas de sua terra e de sua gente. Dispensamo-nos de maiores considerações em torno das várias facetas interessantes da obra (literária, sócio-econômica etc.), porque nosso intento é frisar que, como anota Paulo Nunes Batista, nela “o patriarca juazeirense aparece, pela primeira vez, sob um aspecto ainda não apreciado de sua figura excepcional – o mediúnico”. Passemos, pois, sem mais delongas, aos episódios que se nos afiguram mais relevantes. Escreve Aldenor Benevides que “diversos foram os sonhos prodigiosos do Padre Cícero”. Quando seminarista viu em sonhos todas as cenas da deposição de D.Pedro II e a partida do Imperador para o exílio. Também “viu um enorme urso branco com algumas manchas pretas e tão grande e feroz, que tinha entre suas mãos o globo terrestre a que retalhava com suas grandes unhas, causando horríveis sofrimentos e ruínas a todas nações da Terra”. Quem não pressente, nessa alegoria, uma indisfarçável alusão à Rússia soviética? Sonhou que João Pessoa fora assassinado. Um dia depois chegava a notícia do trágico acontecimento. Ainda cursando o seminário, Cícero Romão, por mais de uma vez, colocou o chapéu numa parte lisa da parede, fazendo-o ali permanecer como se estivesse pendurado num cabide. “Um dia – dizia o Padre Esdras – o Cícero, que era meu vizinho de alojamento, brincando comigo quando nos preparávamos para um passeio pela cidade, tirou da minha mala uma batina e um roquete, colocando-os à parede, onde ficaram até que eu os fosse tirar”. Padre Cícero, às vezes, mandava cavar poços e cacimbas. Após o serviço, a distância mencionava a profundidade dos mesmos, descrevendo fielmente tudo que se encontrava nas proximidades. Em suas mãos, qualquer relógio deixava de funcionar. Isso, ao que parece, explicar-se-ia pelo invulgar potencial magnético de que era dotado o venerando eclesiástico. Certa feita, estando a atender os romeiros, teve um pressentimento e ordenou calmamente: - Peguem e desarmem Fulano (deu-lhe o nome correto) que ali está armado de revólver e com ordem dos seus superiores para me matar. Não façam nenhum mal a ele, pois deixem-no voltar em paz a fim de dizer aos seus chefes que eu não sou tão mau quanto eles julgam. O bandido entregou a arma, confessou a premeditação do crime e ausentou-se do local. O seu amigo Manuel Vitorino, vaticinou que ele, padre Cícero, ainda haveria de “escrever com as mãos dos outros e de falar por boca que no seria a sua”. Quando desencarnasse, naturalmente, através de médiuns de psicografia ou de incorporação. No ano de 1917, após ligeiro transe, braços apoiados sobre a mesa, confidenciou ao amigo: - Ave Maria, meu Deus, que horror! Que fim de guerra, Vitorino. Quanta mortandade e estrondos de artilharia! Configurado, aí, o fenômeno de bilocação ou “viagem em corpo astral”. Previu a segunda conflagração mundial, havendo assegurado ao coronel Francisco Botelho: - Essa guerra, meu amiguinho, irá começar um pouco antes de 1940. Em 1922, pessoas fidedignas ouviram o padre Cícero dizer: “Jesus Cristo afirmou que a humanidade não chegaria ao ano dois mil... na maldade e na cegueira”. Estaria referindo-se ao Terceiro Milênio? O “Taumaturgo de Juazeiro” estivera enfermo. Um seu parente, também sacerdote, foi visitá-lo. “Em conversa íntima com o Patriarca, disse que, se o mesmo chegasse a faltar, ele padre fulano iria sentir muito”. Respondeu-lhe padre Cícero: - Meu amiguinho, muita gente anda dizendo ser eu um padre velho caduco. Pois bem. Preciso, na verdade, fazer uma viagem e quando voltar virei bonito e elegante a ponto de ninguém mais reclamar a minha feiúra. Queria dizer, é claro, que estava aguardando a morte e esperava regressar num outro corpo. Aceitava, portanto, a Lei da Reencarnação. De toda essa compilação do livro de Antenor Benevides, conclui-se que o padre Cícero era um médium notável e disso deveria estar consciente. E devia conhecer, pelo menos intuitivamente, os princípios básicos da Doutrina Espírita. Fonte: “O ESPIRITISMO EXPLICA”

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