sábado, 31 de outubro de 2009

primeiro brasileiro a ser beatificado: Frei Galvão

Frei Antônio de Sant'Anna Galvão, fundador do Mosteiro da Luz, na capital http://www.portaldoo.com.br/entidade/religiosa/arqudisp/image/frei.jpgpaulista, nascido em Guaratinguetá em 1739, e falecido em São Paulo em 1822.

O novo bem-aventurado já foi chamado, numa biografia clássica que lhe dedicou uma freira do Mosteiro da Luz (2), “Bandeirante de Cristo”. Seria difícil atribuir-lhe uma designação mais adequada, tendo em vista sua gigantesca estatura moral.

A expansão dos bandeirantes paulistas pelo interior do continente sul-americano tem certa analogia com a dos navegadores portugueses pelos mares de todo o mundo. Foi, de certa forma, em local e em circunstâncias diferentes, a continuação dela.

A população paulistana foi sempre muito pequena nos tempos das Bandeiras. Somente em fins do século XVIII ela atingiu a casa das 10 mil almas. A vila e depois a cidade de São Paulo era, no entanto, sede administrativa de uma capitania que compreendia os atuais Estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Se mais mundo houvera, lá chegara", disse Camões do navegador luso; "se mais sertão houvera, lá chegara", poderíamos dizer do bandeirante.

Esta introdução é necessária para se compreender o contexto em que nasceu e se criou o Beato Frei Galvão. Descendente de bandeirantes, pertenceu ele também à mesma "raça de gigantes". Foi um bandeirante que aplicou sua grandeza de ânimo e seu valor excepcional não na exploração de sertões, na descoberta de minas e na fundação de cidades, mas na conquista de algo muito mais nobre e elevado: a santidade.

Nasceu Antônio Galvão de França -- o futuro Frei Antônio de Sant'Anna Galvão – em 1739, na vila de Guaratinguetá, filho legítimo de outro Antônio Galvão de França, Capitão-Mor da mesma vila e natural de Faro, no extremo sul de Portugal, e de Dona Isabel Leite de Barros, paulista de Pindamonhangaba.

O pai do novo bem-aventurado pertencia por certo a uma família ilustre no Reino. Sua escrita revela que tivera educação acurada e os talentos que revelou no comércio, na milícia e na administração pública, mostram que era homem de projeção, com qualidades muito acima da média.

Casa onde nasceu Frei Galvão, em Guaratinguetá

Da. Isabel Leite de Barros era filha do Capitão Gaspar Corrêa Leite e de Da. Maria Leite Pedroso, descendendo por ambos os lados dos mais antigos e tradicionais troncos paulistas. O famoso Fernão Dias Paes Leme, o Governador das Esmeraldas, era trisavô do Beato, por linha feminina.

Dos filhos do casal, Frei Galvão era o quarto. Três morreram ainda crianças e os outros sete casaram e deixaram larga descendência.

Como desde cedo revelou tendência para a vida religiosa, aos 13 anos de idade partiu para estudar na Bahia, no Seminário de Belém, que a Companhia de Jesus mantinha a 130 km de Salvador. Lá permaneceu cerca de cinco anos. Recebeu formação das mais sólidas, porque sempre foi conhecido, em São Paulo, como excelente latinista e possuidor de ótima base humanística.

Fez seu noviciado no Convento franciscano de São Boaventura de Macacu, na Capitania do Rio de Janeiro. Na vida religiosa, adotou o nome de Frei Antônio de Sant'Anna Galvão, como sinal de devoção à Mãe da Santíssima Virgem. Santa Ana era a padroeira da família Galvão de França.

Ordenação sacerdotal anterior aos estudos eclesiásticos

Pintura a óleo de Frei Galvão (1946) - Anádia Quissak Figueiredo, Museu Frei Galvão, Guaratinguetá

Foi ordenado sacerdote ainda antes de cursar regularmente Filosofia e Teologia, em caráter excepcional -- o que depõe, obviamente, em favor de sua ótima formação cultural e, sobretudo, da confiança que os superiores manifestavam em suas virtudes.

Após a ordenação, realizada em 1762, foi enviado para São Paulo, onde passou alguns anos aplicado aos estudos de Filosofia e Teologia. Em 1768, já concluídos os estudos regulamentares, foi nomeado, pelo Capítulo provincial de sua Ordem, Pregador, Confessor de Seculares e Porteiro do Convento de São Francisco, em São Paulo.

A partir daí, e sempre andando a pé, estendeu suas atividades apostólicas muito além da cidade de São Paulo. Sorocaba, Porto Feliz, Itu, Parnaíba, Indaiatuba, Mogi das Cruzes, Paraitinga, Pindamonhangaba, Guaratinguetá, foram marcadas por sua presença e edificadas por seus sermões, assim como pelo bom exemplo de suas virtudes.











Vitral que se encontra na Catedral de Santo Antonio de Guaratinguetá, onde o novo Beato foi batizado

Por volta de 1770, Frei Galvão assumiu o cargo de confessor do Recolhimento de Santa Teresa, também na capital paulista. Lá conheceu Irmã Helena Maria do Sacramento, alma privilegiada que representaria, a partir daí, papel fundamental em sua vida e em suas tarefas apostólicas.

Irmã Helena nascera em 1736 na região de Paranapanema, filha de Francisco Calaça e Maria Leme. Havia já muitos anos que levava vida religiosa austera no Recolhimento de Santa Teresa, quando recebeu mensagens sobrenaturais de Nosso Senhor, ordenando-lhe que fundasse um novo Recolhimento em São Paulo. Confiou essa ordem ao confessor, pedindo sua orientação.

Frei Galvão, equilibrado e prudente, não se apressou a dar sua aprovação ao projeto da recolhida. Examinou com todo o cuidado as circunstâncias em que se havia dado a comunicação sobrenatural, analisou a psicologia da religiosa, recomendou a ela que tivesse muito cuidado para evitar enganos do demônio em matéria tão delicada. Mas, tudo bem ponderado, formou o juízo de que a Irmã Helena era realmente inspirada por Deus no seu desígnio.

Não confiando em seu discernimento, ainda quis consultar sobre o caso outros eclesiásticos conhecidos por sua sabedoria e ciência. Todos unanimemente concordaram com o juízo favorável que Frei Galvão formara.

Fundação do convento contra proibição de ministro anticlerical

Azulejo representando o Mosteiro da Luz, existente no vestíbulo de entrada do mesmo

Entretanto, o que Nosso Senhor queria da Irmã Helena parecia impossível. Com efeito, o governo do ímpio Marquês de Pombal, então ministro todo-poderoso de D. José I, proibia terminantemente a fundação de novos conventos em todos os domínios de Portugal.

Se a vontade de Deus era clara, a religiosa acabaria por triunfar. Irmã Helena não recuou diante dos obstáculos aparentemente intransponíveis, e da mesma forma procedeu seu confessor, que a partir daí empenhou-se pessoalmente na fundação, a ponto de ter feito dela a grande obra de sua vida.

O Cônego Antonio de Toledo Lara, que então governava o Bispado por estar vacante a Sé, mostrou-se favorável à iniciativa.

Decisivo foi o apoio dado pelo nobre e piedoso Governador, D. Luiz Antonio de Souza Botelho e Mourão, o Morgado de Mateus.

O Morgado pertencia a uma antiga família fidalga de Trás-os-Montes, a qual tinha como devoções particulares Nossa Senhora dos Prazeres e o Santíssimo Sacramento. Chegado a São Paulo, D. Luiz Antonio mandara restaurar uma antiga ermida dedicada a Nossa Senhora da Luz, que existia nos Campos do Guaré (atual Bairro da Luz), e pretendia consagrá-la às duas aludidas devoções.




Telha que data da época da fundação do Mosteiro da Luz- Museu Frei Galvão, Guaratinguetá

Essa ermida fora edificada em 1603 por um piedoso povoador de São Paulo, cavaleiro professo da Ordem de Cristo, de nome Domingos Luiz, conhecido pela alcunha de "o Carvoeiro" (3). Em redor da capela viveram eremitas, ao longo de todo o século XVII e nas três primeiras décadas do século XVIII. Depois, a capela foi sendo relegada ao abandono, até que a restaurou o nobre Morgado de Mateus, com a finalidade de a consagrar ao culto de Nossa Senhora dos Prazeres e de nela instituir adoração perpétua do Santíssimo Sacramento.

Autorizada por Frei Galvão, a Irmã Helena escreveu, em novembro de 1773, uma carta reservada ao Governador, expondo seus planos e pedindo apoio. No mês seguinte o Governador respondeu, concedendo seu beneplácito e comprometendo-se a arcar com todos os gastos da instalação, mediante algumas condições: que no recolhimento houvesse Laus perenne (louvor perene) ao Santíssimo Sacramento; que a padroeira dele fosse Nossa Senhora sob o título dos Prazeres; que nele se rezasse pela salvação eterna dele e de sua família, e para que sempre procedesse com acerto no serviço de Deus, do Rei, e do Povo pelo qual tinha responsabilidades.

D. Luiz Antonio viu, na instituição do Recolhimento, um meio de realizar seus planos pessoais, com relação às duas devoções de sua família. E procurou habilmente conciliar seus planos com os da Irmã Helena.

Maior habilidade ainda mostraria mais tarde na forma de comunicar ao governo pombalino a notícia de que algumas senhoras de São Paulo se tinham reunido para viver numa casa de retiro, como se fossem religiosas. Não se tratava de vida religiosa propriamente dita, já que as senhoras não tinham votos e poderiam, quando quisessem, retornar às suas famílias.




Astúcia do Governador salva o convento

Aspecto do exterior do Mosteiro da Luz, na capital paulista

Essa comunicação, D. Luiz Antonio a fez a posteriori, de passagem, num relatório oficial, em meio a outros muitos assuntos de governo. Quando chegou de Lisboa a resposta ao relatório, nenhuma palavra havia sobre o Recolhimento... Era precisamente o que o Governador esperava: tacitamente, estava confirmada por Lisboa a autorização que ele dera.

Já antes dessa confirmação, Irmã Helena, que passou a usar o nome de Madre Helena Maria do Espírito Santo, juntamente com oito jovens, se haviam recolhido à ermida da Luz, no dia 2 de fevereiro de 1774.

A idéia inicial de Madre Helena é que vivessem segundo a regra de Santa Teresa. Mas, como já havia outro Recolhimento carmelita na cidade, o novo Bispo, o franciscano Dom Frei Manoel da Ressurreição, que chegou a São Paulo em março de 1774, preferiu que seguissem a espiritualidade da Ordem Concepcionista, ao que elas acederam de boa vontade.

O Morgado de Mateus providenciou também a doação para o Recolhimento, pela Câmara Municipal de São Paulo, de amplos terrenos nos arredores da ermida. E instituiu, com a finalidade de promover com esplendor a festa de Nossa Senhora dos Prazeres, a Irmandade da Nobreza, a qual seria constituída pelos Governadores e congregaria os membros do governo e os militares de mais alta patente da Capitania. Essa irmandade, cuja alta função social foi salientada pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira (4), perdurou até 1890.

Um ano após a instalação do Recolhimento, em fevereiro de 1775, as recolhidas, que viviam em grande pobreza e na maior austeridade, tiveram a tristeza de perder sua fundadora, falecida em odor de santidade. Foi um duro golpe para a comunidade que ainda dava seus primeiros passos.

Mais duro ainda foi o golpe que sofreu em junho do mesmo ano.

O Morgado de Mateus, protetor do Recolhimento, concluiu seu fecundo governo em São Paulo e foi substituído por Martim Lopes de Saldanha -- que, contrariamente a seu antecessor, deixou péssima recordação na história de São Paulo.

Um dos primeiros atos do novo Governador -- ao que parece inimigo pessoal do Morgado de Mateus -- foi exigir do Bispo que fechasse o Recolhimento.

O Prelado teve a fraqueza de ceder, e no dia 29 de junho, Festa de São Pedro, Frei Galvão, obedecendo à ordem episcopal, celebrou Missa na Ermida, distribuiu a Santa Comunhão às religiosas e demais presentes, e depois, com uma tranqüilidade de ânimo que demonstrava o extremo domínio que tinha sobre si mesmo, anunciou às recolhidas que o estabelecimento, por ordem superior, deveria ser fechado, podendo elas se retirar para as casas de suas famílias.

Resignação e resistência heróica dentro da obediência

Cinto que pertenceu a Frei Galvão - Museu Frei Galvão, Guaratinguetá

O respeito às autoridades constituídas, ainda quando ordenam algo que nos desagrada, é característica da verdadeira santidade. Nenhuma murmuração, nenhuma palavra de revolta ouviram as religiosas daquele varão que via, de um momento para o outro, ser injusta e arbitrariamente destruída a obra a que se dedicara com tanto ardor.

Passou-se então, naquele local, uma das mais belas páginas da história paulista: com exceção de três que saíram, todas as outras sete religiosas resolveram, heroicamente, ficar dentro do Recolhimento fechado (a ordem fora fechá-lo, não fora abandoná-lo...), à espera de uma intervenção da Providência. Ali permaneceram mais de um mês, em sublime resistência, entre privações sem nome e também -- foi a contrapartida da Providência -- sendo prodigiosamente mantidas por Ela:

As Crônicas do Mosteiro registram esses heróicos tempos:

"Foram imensos os trabalhos, fomes e misérias que passaram aquelas que com uma constância heróica se resolveram a ficar .... Comiam sem farinha, sem sal, inteiramente entregues à Providência, pois até as pessoas da cidade que faziam algumas esmolas ao Recolhimento ignoravam que elas existissem mais ali, crendo que todas tinham saído, pois viam todas as portas fechadas, e nenhum sinal de existir ali criatura viva.

"Deus, porém, cuja Providência vela especialmente sobre aqueles que O servem com constância, manifestou então seu amor, sustentando-as com a sua graça, e dispensando alguns milagres, entre os quais referiremos dois mais especiais.

"O primeiro foi que, tendo estado o tempo seco por alguns dias e faltando portanto inteiramente água, num dia sereno e claro, resolveram-se as Religiosas a implorar a clemência divina, e reunindo-se no Coro, começaram a orar com fervor; imediatamente cobriu-se o céu de nuvens, começou a trovejar, caiu uma pancada de água, quanto era necessário para encher as talhas e mais vasos que havia na casa, e logo que estes foram cheios, cessou a chuva.

"Outro foi que, havendo na casa um pé de morangas, o qual continuamente era despojado das folhas tenras e grelos que brotavam, em razão da grande fome e falta de outros alimentos, não obstante isto prosperou, e estendeu-se tanto, e no tempo próprio produziu tanta abundância de frutos, que as Religiosas não podendo dar consumo a todos .... até viram-se na necessidade de deixar apodrecer grande parte das morangas.

"Porém Deus Nosso Senhor não as deixou por muito tempo neste abandono, pois tendo o Exmo. Sr. Bispo restituído as coisas ao antigo estado, o novo estabelecimento começou a prosperar" (5).

Socorro da Providência Divina: apoio do Vice-Rei

Placa comemorativa do bicentenário do nascimento do novo Bem-aventurado (31-12-1939)

Afinal, chegam do Rio de Janeiro cartas do Vice-Rei Marquês do Lavradio, sob cuja autoridade estava o Governador de São Paulo. O Vice-Rei, ao qual Martim Lopes comunicara ter mandado fechar o recolhimento irregularmente permitido pela administração anterior, não o apoiou, mas pelo contrário o censurou e deu ordem para que deixasse as recolhidas em paz.

Certa vez Martim Lopes condenou à morte, injustamente, um soldado. A injustiça da condenação era flagrante, e o Beato uniu sua voz à de inúmeras outras pessoas que defendiam o acusado. Sem embargo disso, Martim Lopes fez executar sua sentença e condenou o Beato à pena de exílio: deu-lhe ordem de que partisse imediatamente para o Rio de Janeiro.

O Beato, sempre respeitoso das autoridades constituídas, obedeceu e pôs-se a caminho. Mas, nem bem se afastara da cidade quando recebeu aviso de que podia voltar, pois o Governador cancelara a arbitrária ordem. Na realidade, o que acontecera é que a população de São Paulo, revoltada pelo fato de estar sendo expulso o religioso que todos admiravam como santo, cercara ameaçadoramente a residência do Governador e o obrigara a, mais uma vez, voltar atrás.

Desde a partida de Martim Lopes, ocorrida em 1782, nunca mais o Mosteiro da Luz e seu egrégio fundador sofreram qualquer espécie de dificuldades por parte do poder público.

O Beato pôde, então, consagrar-se por inteiro a duas tarefas ingentes. Em primeiro lugar, a de formar na virtude e na piedade as religiosas da Luz, dando-lhes um estatuto de vida que, com algumas adaptações, elas seguiram até 1929, quando finalmente, após um processo canônico, o Recolhimento da Luz foi regularmente incorporado à Ordem Concepcionista.

Frei Galvão: engenheiro, mestre de obras e trabalhador manual

Lápide da sepultura do novo Beato, capela do Mosteiro da Luz. Sobre ela, a frase latina: "Aqui jaz Frei Antônio de Sant'Anna Galvão, ínclito fundador e diretor deste Mosteiro, tendo sempre em suas mãos a própria alma, placidamente dormiu no Senhor no dia 23 de dezembro de 1822"

Outra tarefa não pequena, a que o Beato dedicou, no total, 48 anos de esforços contínuos, foi edificar a capela e o mosteiro. Desde o início as religiosas levavam sua vida consagrada em condições precárias, mas pouco a pouco o Beato foi edificando o mosteiro magnífico que ainda hoje vemos.

Nessa obra, ele foi o arquiteto, o engenheiro, o mestre de obras e, muitas vezes, o trabalhador manual. Era quem dirigia os numerosos escravos que trabalhavam na obra, aproveitando a ocasião para fazer bem às almas do pobres negros.

Quando morreu, em 1822, ainda faltava edificar a torre da capela. Mas, na minúscula cela que, com autorização de seus superiores, ele passara a ocupar no Recolhimento da Luz (sua saúde combalida já não lhe permitia, como antes, ir a pé diariamente do Convento de São Francisco, onde residia, até a Luz), deixou desenhado na parede o projeto arquitetônico que concebera para a torre.

O Mosteiro da Luz até hoje desperta admiração dos visitantes, pela beleza de suas linhas e pela solidez de sua construção. Assim o quis o Beato. Era paupérrimo em tudo o que lhe dizia respeito, como digno filho de São Francisco, e zelava para que as religiosas mantivessem o mesmo espírito de pobreza. Mas, na hora de construir a casa de Deus, não fazia economias. Queria tudo da melhor qualidade, em tudo deixava a marca de seu bom gosto.

Essas atividades, o Beato precisou conjugar com funções de alta responsabilidade na Ordem Franciscana (foi mais de uma vez Guardião, isto é, superior, de seu convento), e com o apostolado contínuo que sempre realizou em São Paulo e em muitas localidades do interior.

Dons sobrenaturais em vida – Numerosos prodígios post-mortem

Prato que foi utilizado por Frei Galvão - Museu Frei Galvão, Guaratinguetá

Foi favorecido com graças místicas extraordinárias: bilocação, levitação, etc. Era público e notório que, por privilégio divino, freqüentemente lia no segredo das consciências. Realizou curas extraordinárias, por vezes valendo-se das famosas "pílulas de Frei Galvão", que ensinou as freiras a fazer e que, até hoje, obtêm curas maravilhosas













As famosas "pílulas de Frei Galvão"

"Pílulas de Frei Galvão"

"Certo dia, Frei Galvão foi procurado por um senhor muito aflito, porque sua mulher estava em trabalho de parto e em perigo de perder a vida. Frei Galvão escreveu em três papelinhos o versículo do Ofício da Santíssima Virgem: Post partum Virgo Inviolata permansisti: Dei Genitrix intercede pro nobis (Depois do parto, ó Virgem, permanecestes intacta: Mãe de Deus, intercedei por nós). Deu-os ao homem, que por sua vez levou-os à esposa. Apenas a mulher ingeriu os papelinhos, que Frei Galvão enrolara como uma pílula, a criança nasceu normalmente.

"Caso idêntico deu-se com um jovem que se estorcia com dores provocadas por cálculos visicais. Frei Galvão fez outras pílulas semelhantes e deu-as ao moço. Após ingerir os papelinhos, o jovem expeliu os cálculos e ficou curado.

"Esta foi a origem dos milagrosos papelinhos, que, desde então, foram muito procurados pelos devotos de Frei Galvão, e até hoje o Mosteiro fornece para as pessoas que têm fé na intercessão do Servo de Deus" (transcrito de folheto distribuído no Mosteiro da Luz).






Restos do caixão de Frei Galvão - Museu Frei Galvão, Guaratinguetá

Quando morreu, foi sepultado na capela da Luz, onde até hoje seu sepulcro é procurado por fiéis das mais diversas condições que recorrem a ele, confiantes de encontrar no admirável franciscano, agora que goza da Bem-aventurança eterna, a mesma bondade acolhedora que sempre encontraram, enquanto vivia, seus contemporâneos.

Entre 1930 e 1990, o Mosteiro da Luz recebeu relatos escritos de nada menos de 23.929 graças alcançadas pela intercessão de Frei Galvão, sendo 7028 curas, 2702 partos bem sucedidos, 332 casos de pedras de rins, 123 conversões e 13744 casos de outras graças.

O processo de beatificação, aberto em 1938, após quatro fases chega agora a seu feliz termo.

Tem início o caminho para a canonização, após a qual Frei Galvão poderá receber o culto da Igreja universal. Invoquemos com confiança o Beato, em nossas aflições e necessidades. Quem sabe, Deus não estará à espera de um pedido nosso para fazer o milagre necessário para a canonização? (6)

Notas:

(1) A família do novo Beato podia ser, com justiça, considerada integrante da chamada Nobreza da terra (Cf. Plinio Corrêa de Oliveira, Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado a à Nobreza romana, Livraria Civilização Editora, Porto, 1992, Apêndice I).

(2) Maristela, Frei Galvão -- Bandeirante de Cristo, Mosteiro da Imaculada Conceição da Luz, São Paulo, 2a. ed., 1978.

(3) Domingos Luiz, que devia sua alcunha ao fato de ser natural da freguesia de Santa Maria da Carvoeira, em Marinhota, Portugal, é antepassado direto do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira.

(4) Cf. “Folha de S. Paulo”, 4-8-74.

(5) Crônica - 1º Tomo: 1774 a 27 de agosto de 1941 - transcrito na Biografia Documentada de Frei Galvão, Capítulo Sexto, doc. 3.

(6) Quaisquer graças obtidas devem ser comunicadas ao Mosteiro da Imaculada Conceição da Luz, Av. Tiradentes, 676, CEP 01102-000, São Paulo - SP).

Fontes de referência:

Este artigo é baseado quase exclusivamente na Biografia Documentada de Frei Galvão, constante do volume II da "Posição sobre a vida, as virtudes e a fama de santidade utilizada em seu processo de beatificação. É documento acessível a qualquer leitor brasileiro, pois sua tradução, de autoria da Irmã Célia Cadorin, Postuladora da Causa de Beatificação de Frei Galvão, acaba de ser editada em São Paulo, pelas Edições Loyola. Está à venda no próprio Mosteiro da Luz.

Serviram também à redação dele cinco artigos que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira publicou na "Folha de S. Paulo", sobre Frei Galvão e Madre Helena Maria do Espírito Santo, fundadores do Convento da Luz, intitulados respectivamente: Não leiam ou leiam meu próximo artigo (21-7-74); A nuvem, a onça e o mancebo (28-7-74); Catástrofe, tufão e durabilidade (4-8-74); Resistência na São Paulo colonial (22-12-74) e Consagração, liberdade suprema (29-12-74).

Escravo de Maria


No Mosteiro da Luz, entre as mais preciosas relíquias de Frei Galvão, conserva-se o original de seu ato de consagração como escravo a Nossa Senhora, escrito com sua própria letra em 1766, quando tinha 27 anos de idade:

"Saibam todos quantos esta carta e cédula virem, como eu, Fr. Antônio de Sant'Anna, me entrego por filho e perpétuo escravo da Virgem Santíssima Minha Senhora, com a doação livre, pura e perfeita de minha pessoa, para que de mim disponha conforme sua vontade, gosto e beneplácito, como verdadeira Mãe e Senhora minha. E Vós, Soberana Princesa, dignai-vos de aceitar esta minha pessoa, venda, e filial entrega, não duvideis em me admitirdes ao vosso serviço, a este vil servo .... Nas vossas piedosíssimas mãos entrego meu corpo, alma, coração, entendimento, vontade e todos os mais sentidos, porque de hoje em diante corro por vossa conta e todo sou vosso .... Para o que vos ofereço desde agora todos os meus pensamentos, palavras e obras, e tudo o mais meritório que fizer e indulgências que ganhar, para que apresenteis junto com os vossos merecimentos a vosso Filho Santíssimo, dispondo vós de todos eles conforme for vossa vontade .... Sejam também meus intercessores o Arcanjo São Gabriel, e o Anjo da minha guarda, e todos os mais Anjos, de todos os coros Angélicos, e todos os Santos e Bem-aventurados, principalmente meu pai São Francisco, digo, primeiramente os gloriosos Santos vossos pais e esposo, meu pai São Francisco, Santa Águeda, o Santo do meu nome, São Pedro de Alcântara, Santa Gertrudes, meu pai São Domingos, São Tiago Apóstolo, São Benedito, os Reis Magos, São Jerônimo, Santa Teresa, São Francisco de Borja, a minha Mãe Isabel, e Irmãos, e parentes e amigos, se é que todos gozam da vossa vista, como o espero e piamente suponho, e a todos os mais que é vossa vontade que eu peça em particular. E rogo a todos estes referidos Santos que orem a vós por mim, e me sirvam de testemunhas irrefragáveis desta minha filial entrega e escravidão. E para que conste que esta minha determinação foi feita em meu perfeito juízo faço esta Cédula de minha própria letra, e assinada com o sangue de meu peito. Hoje, dia do patrocínio de minha Senhora e Mãe de Deus, 9 de novembro de 1766. De minha Senhora Maria Santíssima indigno servo. a) Frei Antônio de Sant'Anna".

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